
“Sem cuidar com eficiência de questões cruciais como essas, o advogado acaba se afastando da OAB”
Em entrevista ao Blog do Ricardo Callado, no Dia do Advogado, Paulo Roque Khouri, reconhecido por sua atuação na área de Direito do Consumidor, fala da proximidade do processo eleitoral que escolherá a nova gestão da Seccional DF da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), previsto para acontecer em novembro. Nela, aborda a participação dos jovens para a fundação de uma nova Ordem, fala da necessidade de melhorias na gestão e da retomada do ativismo da instituição no resgate da autoestima dos advogados, de suas prerrogativas e na defesa da sociedade. “Sem cuidar com eficiência de questões cruciais como essas, o advogado acaba se afastando da OAB”, explica.
O que é o Movimento OAB Independente?
Somos um movimento republicano formado por advogados e advogadas, que defende, desde 2012, o resgate da OAB-DF, por meio de quatro eixos básicos de atuação. São eles independência, ética na advocacia, eficiência administrativa e gestão democrática. Em resumo, defendemos a completa desvinculação da Ordem de governos e partidos, ativismo na luta contra a corrupção, o resgate da autoestima dos advogados e a defesa de nossas prerrogativas, além da representação das demandas da sociedade, que clama por mudanças. Vivemos um momento dificílimo no País; uma perversa combinação de crise econômica e política, que pode culminar em uma crise institucional grave que é ruim para todos nós. Tudo isso acontecendo e a OAB não se manifesta. Isso está errado. Neste Dia do Advogado, queremos parabenizar aos advogados e advogadas e chamar a atenção deles para essa discussão.
O senhor falou em resgate de autoestima dos advogados. Os profissionais estão com problemas para atuar?
Como advogados militantes que somos, sentimos na pele questões que atormentam o profissional. Da porta fechada do juiz à fixação aviltante dos honorários de sucumbência, que representam nossa remuneração. Sem cuidar com eficiência de questões cruciais como essas, o advogado acaba se afastando da OAB. E isso está acontecendo. Boa parte não se sente representada pela Ordem e isso não é bom.
Nosso grupo, por exemplo, é formado, em sua maioria, por advogados jovens aliados a advogados militantes já com dez, 15 anos de profissão. São eles os que mais sofrem com esse desrespeito. Por isso, também são eles quem ditam nossa pauta. Precisamos estar prontos, inclusive, para enfrentar projetos que se desenham contra a advocacia no Congresso. Não podemos acompanhar inertes a esses processos e precisamos estar unidos.
A OAB-DF não oferece essa estrutura para esse público?
Na verdade, a estrutura da OAB-DF evoluiu pouco da época do dr. Maurício Correa e Amaury Serralvo (ex-presidentes) pra cá, quando vivemos o melhor momento do respeito às nossas prerrogativas. Atualmente, entretanto, temos dez vezes mais advogados inscritos. Precisamos dar estrutura a esse efetivo que é formado, em boa parte, por jovens advogados, que muitas vezes estão pouco preparados para enfrentar o mercado. Por isso, vamos viabilizar formas de fiscalizar os cursos de Direito e acompanhar esses novos profissionais no mercado, dando-lhes suporte e auxílio institucionais.
Ultimamente as eleições para a OAB-DF têm ganhado repercussão também fora da advocacia. Qual sua visão sobre esse movimento?
A sociedade está carente de lideranças. No passado, a OAB cumpriu papéis determinantes na defesa do Direito e da sociedade. Foi assim durante a ditadura militar, na consolidação da Constituição de 1988 e no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Recentemente, também participou ativamente do Movimento ‘Ficha Limpa’, que contribuiu para o aperfeiçoamento do processo eleitoral. Isso, só para citar alguns exemplos. Atualmente, entretanto, vemos escândalos e ameaças às instituições democráticas surgirem sem que a Ordem se pronuncie. Isso precisa mudar. Queremos mesmo que a sociedade participe, acompanhe nosso movimento e cobre nossa atuação. Hoje, esse acompanhamento é mais fácil graças à imprensa livre, às redes sociais e a uma consciência maior do cidadão sobre a importância de sua participação nos processos políticos. Queremos reforçar isso.
O senhor disputou a última eleição com o mote “campanha a custo zero”. Isso vai se repetir?
O “custo zero” de campanha não é apenas um slogan. Ele é muito, mas muito mais mesmo do que isso. É um modelo de gestão que se inicia na campanha. Não há porque gastar fortunas numa disputa para cargos que não são remunerados, como é o caso dos da OAB. Não há almoço de graça. Custo zero é isso. Custo zero para o advogado, sobretudo depois das eleições, quando se assume a gestão. Queremos dar um exemplo de transparência e eficiência, que servirá para outras disputas eleitorais em todo o País. Se nós criticamos o excesso de gastos nas eleições parlamentares, então, por que vamos gastar mais? Os advogados querem uma OAB que os represente, que os proteja e que garanta sua dignidade no exercício profissional. Nossas reuniões para discussão, por exemplo, são todas por adesão, sem custos. Consideramos isso mais digno. Será assim nossa reunião hoje no Brasília Design Center, às 18h30.
O senhor é candidato à Presidência da OAB-DF?
O Movimento OAB Independente me colocou com pré-candidato. Candidatura definitiva só com publicação dos editais pela OAB/DF, o que ainda não aconteceu. Mas, por ora, nossa preocupação é ampliar nosso alcance e difundir nossas ideias. Temos certeza que elas representam os anseios da maioria dos que compõem a classe. Vamos oferecer uma alternativa aos grupos que se revezam há anos na OAB. Um novo modelo de atuação pautado na ética, na eficiência e na democracia.