Política de regularização de templos fortalece Ibaneis, enquanto Rollemberg carrega marcas de polêmicas contra igrejas e sua proximidade com o condenado João de Deus
Na sexta-feira, 6 de junho, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), foi recebido com entusiasmo por uma multidão na Festa de Pentecostes, realizada no Taguaparque, em Taguatinga. O evento, que reuniu milhares de fiéis, majoritariamente cristãos, destacou a popularidade de Ibaneis, impulsionada por sua política de regularização fundiária de templos religiosos, considerada um marco de diálogo com as comunidades de fé.
A ovação contrasta fortemente com a memória do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB), cuja gestão (2015-2018) foi marcada por episódios polêmicos, como a demolição de um templo da Assembleia de Deus e a sua associação com o médium João de Deus, que mancharam sua imagem. O que explica essa diferença abissal?
A política de regularização de templos, iniciada por Ibaneis em 2019, resolveu um problema crônico no DF: a insegurança jurídica de igrejas instaladas em áreas não regularizadas. Até maio de 2025, mais de 300 templos receberam escritura pública, beneficiando denominações evangélicas, católicas e de matriz africana.
A medida, que inclui isenção de taxas para igrejas sem fins lucrativos, foi celebrada na Festa de Pentecostes, onde líderes religiosos, como o pastor Josué Valandro Jr., da Igreja Batista Atitude, elogiaram Ibaneis por “respeitar a fé do povo”.
A ovação no Taguaparque reforça o capital político de Ibaneis às vésperas de 2026, quando Celina Leão (PP) assumirá o governo. Em um DF onde a esquerda está fragmentada — com Ricardo Cappelli (PSB) e Leandro Grass (PV) em disputa — e a direita, liderada pelo governador, cresce, o apoio religioso é um trunfo. A mais recente pesquisa AtlasIntel (07/03/2025) mostra Ibaneis com 62% de aprovação, contra apenas 15% de Rollemberg em 2018, evidenciando a força do atual governador.
Rodrigo Rollemberg, por outro lado, carrega cicatrizes de sua gestão. O episódio mais marcante ocorreu em 23 de outubro de 2017, quando um templo da Assembleia de Deus na Vila Planalto foi demolido por ordem da Agefis (Agência de Fiscalização do DF), sob alegação de ocupação irregular. A ação, que deixou fiéis em choque e gerou protestos, foi vista como hostilidade às igrejas evangélicas, um grupo influente no DF. Pastores como Silas Malafaia, já atacaram Rollemberg à época, chamando-o de “inimigo da fé”.
Outra mancha foi a associação com João de Deus, preso em 17 de dezembro de 2018 por abusos sexuais em Abadiânia (GO). Rollemberg, que frequentava a Casa Dom Inácio de Loyola e mantinha uma foto do médium em seu gabinete, enfrentou críticas quando o escândalo veio à tona.
Embora negue amizade próxima, sua tentativa de se distanciar — retirando a foto após a prisão — não apagou a percepção de proximidade com uma figura controversa. As controvérsias contribuíram para a não reeleição de Rollemberg, que é frequentemente citado como um dos governadores menos populares da história do Distrito Federal. Esses episódios, somados à crise hídrica de 2017 e greves no transporte, selaram sua derrota em 2018, vencida por Ibaneis por 69,79% dos votos.
A popularidade de Ibaneis, reforçada pelo apoio religioso, é um ativo para Celina Leão, que herda um governo fortalecido por obras e programas sociais. A esquerda, dividida entre Cappelli e Grass, não consegue capitalizar o eleitorado religioso, que representa 35% dos votantes do DF, segundo o Datafolha. A demolição do templo e o caso João de Deus ainda pesam contra Rollemberg, hoje um defensor de Cappelli, mas sem força para reverter sua impopularidade.
A Festa de Pentecostes 2025 mostrou que Ibaneis é um governador de fé. Em um Brasil onde Lula tem quase 60% de desaprovação e o STF é questionado por casos como o “Julgamento de Débora”, o governador do DF se posiciona como um líder que une, enquanto Rollemberg permanece como um símbolo do que não fazer.
Para 2026, a lição é clara: no DF, respeitar as comunidades religiosas é mais que um gesto — é uma estratégia que vence eleições.