Rombo de quase R$ 7 bilhões é puxado por Correios e investimentos; governo nega impacto fiscal e aponta lucros contábeis
Da Redação
As estatais federais brasileiras registraram um déficit primário de R$ 6,7 bilhões em 2024, o maior em 23 anos, conforme dados do Banco Central divulgados em 31 de janeiro de 2025. O resultado, que considera 44 empresas controladas diretamente pela União e 79 subsidiárias, supera o recorde anterior de 2014 (R$ 2 bilhões) e marca o pior desempenho desde 2001, início da série histórica. Em 2023, o déficit foi de R$ 656 milhões, enquanto 2019 teve superávit de R$ 10,3 bilhões, impulsionado por aportes do Tesouro.
Os Correios, com um rombo de R$ 3,2 bilhões, foram os principais responsáveis, segundo a secretária de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest), Elisa Leonel. Outras estatais, como a Emgepron (R$ 2,49 bilhões), também contribuíram, com gastos em projetos como a construção de fragatas para a Marinha. O governo atribui o déficit a investimentos de longo prazo, como os R$ 96,18 bilhões aplicados em 2024, um aumento de 44,1% em relação a 2023, e nega prejuízo operacional, destacando que 16 das 20 estatais analisadas devem fechar o ano com lucro contábil
A ministra da Gestão, Esther Dweck, reforçou que o déficit reflete fluxo de caixa, não saúde financeira, já que empresas como Serpro (lucro de R$ 426 milhões) e Dataprev (R$ 385 milhões) registraram déficits primários devido a investimentos. “O déficit não impacta a dívida pública”, afirmou Dweck, destacando que os recursos vêm de caixas próprios, não do Tesouro. Críticos, como o economista Cláudio Frischtak, alertam que o rombo, mesmo ligado a investimentos, é custeado pela sociedade e fragiliza as contas públicas.
O presidente dos Correios, Fabiano Silva, creditou o déficit da estatal à falta de investimentos na gestão Bolsonaro e à “taxa das blusinhas”, que reduziu receitas em R$ 1 bilhão. Um plano de reestruturação, discutido com o presidente Lula, inclui corte de R$ 1,5 bilhão em despesas, mas mantém patrocínios, como R$ 4 milhões para a turnê de Gilberto Gil. Oposição, como o ex-deputado Deltan Dallagnol, critica a gestão petista, alegando uso político das estatais.