Divisões entre PT, PV e PSB, somadas à aposta em Ricardo Cappelli, sinalizam fragilidade da esquerda no Distrito Federal
O Distrito Federal (DF) assiste a um enfraquecimento crescente da esquerda política, tendência que pode culminar em uma derrota sem precedentes nas eleições de 2026. Enquanto o Partido dos Trabalhadores (PT) perde força a cada pleito, seus aliados tradicionais, como o Partido Verde (PV) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB), enfrentam disputas internas que os analistas descrevem como um verdadeiro “saco de gatos”.
No centro dessa briga está a rivalidade entre Leandro Grass (PV) e Ricardo Cappelli (PSB), ambos buscando liderar o campo progressista. Para complicar, o ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB), considerado por muitos o pior gestor que Brasília já teve, aposta suas fichas no “desconhecido e forasteiro” Cappelli. Será esse o fim da esquerda no DF?
O PT, que já foi uma força dominante no DF com gestões como a de Cristovam Buarque (1995-1998), vem encolhendo após eleição. Em 2022, apesar da vitória nacional de Lula, o partido não conseguiu emplacar um desempenho expressivo localmente, reforçando essa tendência. Enquanto isso, o PV de Leandro Grass, ex-deputado distrital e hoje com um cargo de segundo escalão no governo Lula, tenta se posicionar como alternativa, mas esbarra na falta de unidade com o PSB. Grass, que já foi da Rede, defende uma frente ampla, mas suas críticas públicas à fragmentação progressista mostram a dificuldade de alinhamento.
Ex-militante do PCdoB, Ricardo Cappelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e pré-candidato do PSB ao governo do DF em 2026, é a aposta de Rollemberg, que o vê como “o nome mais forte do campo progressista”. Cappelli ganhou projeção como interventor da segurança pública após o 8 de janeiro de 2023, mas enfrenta resistência por ser percebido como outsider — nascido no Rio de Janeiro e tendo ocupado cargos do Governo do Maranhão, sem raízes políticas profundas em Brasília.
Rollemberg, cuja gestão (2015-2018) é lembrada por crises como a falta d’água e greves no transporte, acredita que Cappelli pode unificar a esquerda, mas analistas duvidam. “O PSB está dividido, o PT está enfraquecido, e o PV não decola. É uma receita para o desastre”, aponta um cientista político local.
O cenário favorece a direita e o centro-direita, que têm se consolidado no DF. Celina Leão (PP), vice-governadora recém-absolvida de acusações infundadas da esquerda pelo TJDF, e Ibaneis Rocha (MDB), com legado em infraestrutura e eletromobilidade, dominam as articulações para 2026. A ascensão de nomes conservadores, como Damares Alves e Michelle Bolsonaro (cotada para o Senado), reforça a tese de que a esquerda pode sofrer sua maior derrota em décadas.
A falta de coesão é o calcanhar de Aquiles da esquerda no DF. Enquanto Grass alerta que “se o campo progressista se dividir, será atropelado”, Cappelli segue em campanha precoce, mas sem apoio amplo. O PT, por sua vez, não apresenta um nome competitivo, e a memória de gestões como a de Rollemberg pesa contra o PSB. Em um DF onde a direita avança — vide as municipais de 2024, com vitórias do centro-direita em capitais, 2026 pode ser o ano em que a esquerda, fragmentada e sem rumo, verá seu pior pesadelo se concretizar.