Grupo de venezuelanos chega ao Distrito Federal para trabalhar em rede de restaurante fast-food

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Todos os novos contratados passaram por entrevistas e testes de seleção realizados em Roraima Foto Divulgação/Refugio343

Migrantes estavam abrigados em Roraima e serão interiorizados com o apoio de organizações que trabalham em conjunto com a Operação Acolhida

A partir desta sexta-feira (14), 27 refugiados venezuelanos irão desembarcar no aeroporto Juscelino Kubitscheck, em Brasília, para iniciar uma nova vida na capital federal a partir de uma oportunidade de trabalho. Onze deles foram contratados para iniciar as atividades numa rede de fast-food gerenciada pelo grupo Levvo, no Distrito Federal. Sete virão acompanhados por familiares e os outros quatro são solteiros e virão sozinhos.

A oportunidade de emprego surgiu a partir do grupo Levvo, que abriu o processo seletivo e escolheu os perfis dos candidatos com o apoio da organização humanitária Refúgio 343, responsável pela realização das entrevistas em Roraima, bem como pela preparação dos candidatos para a nova oportunidade profissional. A interiorização do grupo para Brasília também contou com a parceria da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil), que implementa o projeto Acolhidos por meio do trabalho. O projeto prevê moradia temporária equipada e três refeições diárias durante três meses para todo o grupo interiorizado. Eles também terão o acompanhamento de um assistente social para apoiá-los na integração com a empresa e na comunidade local durante três meses. “Nós entendemos que essa transição merece muita atenção, já que essas pessoas estão saindo de abrigos em Boa Vista e não contam com recursos para arcar com aluguel ou outras despesas neste momento”, explica a gerente do projeto Acolhidos por meio do trabalho, Thais Braga.

Segundo o gerente operacional do Refúgio 343, Guilherme Sperandio, a adaptação cultural dos migrantes é um dos grandes desafios no processo de interiorização. “Além de estarem em um país com costumes e idioma diferentes, eles também estão muito abalados psicologicamente por conta do processo de migração. Por isso, mantemos em Boa Vista a Escola Refúgio 343, que oferece a esses venezuelanos aulas de português, capacitações técnicas e treinamentos de habilidades comportamentais. Esse serviço, aliado aos atendimentos psicológicos que prestamos, garante que estejam preparados para oportunidades de reinserção socioeconômica, como esta, oferecida pelo Grupo Levvo”, explica.

Ismenia Elena é uma das pessoas que irá desembarcar nesta sexta-feira. Ela chegou ao Brasil atravessando a fronteira sozinha. “Estou muito feliz com essa oportunidade de emprego que vai me permitir alcançar o sonho de ter uma casa, o meu cantinho, de novo. Quando estiver estabilizada, quero ajudar aos idosos de Brasília. Era um trabalho que fazia na Venezuela e que quero voltar a fazer. Fui ajudada e mais do que nunca quero ajudar a quem precisa também”, revela a venezuelana.

Ismenia planeja fazer trabalhos voluntários com idosos em Brasília, depois que estiver estabilizada Divulgação/Refugio343

 

Chegada em Brasília

Os migrantes irão desembarcar a partir de sexta-feira (14) no aeroporto internacional Juscelino Kubitscheck em voos e dias alternados. As passagens aéreas foram cedidas pela Organização Internacional de Migração (OIM). Ao chegarem, eles serão realocados em uma acomodação temporária, sendo que 22 ficarão na Asa Norte, assistidos pelo projeto Acolhidos por meio do trabalho, e uma família com cinco integrantes receberá o acolhimento no Novo Gama, previsto pela empresa contratante.

Todos os 11 novos contratados começam as atividades até o final do mês e terão um dia de interação com os colaboradores da empresa para adaptação. Eles já concluíram todas as etapas do processo seletivo e estão com as documentações e vacinas em dia. A empresa também vem adotando todas as medidas preventivas contra a Covid-19 em seu quadro de colaboradores, como controle de higienização, uso de máscaras, aferição de temperatura diária, distanciamento, entre outros, e oferece apoio psicológico aos funcionários, para que se sintam seguros no ambiente de trabalho, disponibilizando o atendimento de médicos, psicólogos e outros profissionais, por meio de uma central telefônica.

Para Laura Oliveira, presidente e fundadora do grupo Levvo, a inclusão foi um dos principais fatores priorizados pela empresa nesta contratação. “O fator humano é muito importante neste momento em que o mundo está passando por uma grande transformação. Estamos atentos a isso. Entendemos que incorporar colaboradores de diferentes culturas e experiências de vida, pode agregar valores para nossa equipe, além de crescimento profissional e pessoal para cada um de nós. Por isso também promovemos a inclusão de gênero, o empoderamento feminino, a valorização e o respeito cultural entre outros aspectos que são muito importantes para nós, para nossa empresa e para os nossos consumidores”, aponta.

Crise na Venezuela

A Venezuela enfrenta uma intensa situação política, econômica e social, que foi reconhecida pela comunidade internacional como uma crise humanitária. Como resultado dessa crise, desde 2018 milhares de venezuelanos fugiram pela fronteira brasileira em busca de abrigo, gerando pressões sociais e econômicas no estado de Roraima, especialmente nas cidades de Boa Vista e Pacaraima. Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) o Brasil é o quinto maior anfitrião de venezuelanos deslocados no mundo. Até dezembro de 2019, mais de 260 mil refugiados, solicitantes de asilo e migrantes temporários estavam no país. Cerca de 70% estavam em idade laboral, sendo que, deste total, 10% estavam empregados formalmente em dezembro de 2019.

Atualmente cerca de 5 mil venezuelanos continuam abrigados em Boa Vista. Foto Divulgação/AVSIBrasil

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