Por Rodrigo Augusto Prando
Concedi, não faz muito, uma entrevista acerca da importância dos debates entre, principalmente, os candidatos à presidência da república. Na ocasião, destaquei para a jornalista, três dimensões que, a meu ver, são importantes no que tange ao debate entre os políticos e, ainda, dos questionamentos realizados pelos jornalistas.
A primeira dimensão — e a mais profunda — é que o debate é, por essência, elemento fundamental para a democracia. No ambiente democrático, o diálogo e o debate de ideias, valores, ideologias e projetos políticos e de poder são necessários à vida coletiva assim como o oxigênio é para a vida de nosso organismo. A sociedade, por meio da política, coloca freios ao poder, poder, portanto, que será exercido de forma tripartite (Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário), dentro do Estado Democrático de Direito. Assim, a autoridade, na política, constitui-se em um poder autorizado, tutelado pela lei. Viver em sociedade implica em conflitos, todavia, os conflitos serão resolvidos não pelo uso da força, da violência, e sim por meio do diálogo, da discussão e dos debates. Infelizmente, no Brasil, dada nossa cultura política de caráter autoritário, os debates são, quase sempre, encontros que derivam para a violência verbal, ataques pessoais e, não raro, para violência física. O debate e a discussão com respeito podem ser praticados desde a infância e nos variados espaços de socialização. Não valoriza o debate uma sociedade que se apega ao adágio do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
A segunda dimensão da importância do debate se refere ao debate no bojo das eleições. Candidatos ao Executivo (prefeitos, governadores e presidente da república) que se propõe ao debate introduzem um ganho fundamental para que o cidadão/eleitor possa escolher melhor em quem confiará seu voto. No debate, os candidatos podem indicar suas ideias, seus valores, visão de mundo, ideologia política, pressupostos partidários, bem como dar respostas concretas sobre os problemas sociais e os atinentes à gestão pública. Os candidatos podem — e devem — apresentar sua trajetória de vida e o porquê estão concorrendo àquele cargo, isto é, o que lhe credencia a ter o seu (nosso) voto. Mais ainda: os adversários poderão perguntar uns aos outros, tendo direito à réplica e à tréplica; jornalistas formularão questões mais elaboradas e, assim, o eleitor terá à disposição um manancial de informações objetivando formar sua intenção de voto.
Por fim, a terceira dimensão dos debates está ligada, pragmaticamente, à força do marketing político, do trabalho realizado pelo profissional especializado que buscará valorizar as qualidades de seu candidato e, obviamente, ocultar seus defeitos e fragilidades. À luz desta lógica, o debate torna-se imediatista, cuja lógica está na formulação de narrativas e de desconstrução dos adversários. Por isso, muitas vezes candidatos nas primeiras colocações nas pesquisas declinam de participar dos debates, já que se tornam alvos de ataques de todos os outros candidatos. Tal opção é racional, mas empobrece a democracia e as eleições.
Há, sem dúvida, muitas outras dimensões que poderiam ser trazidas à tona neste escrito que perpassam a importância do debate na sociedade e nas eleições. Pensemos, leitor e leitora, o porquê de alguns candidatos não quererem debater. Qual o motivo para, sempre, se apresentar em ambientes protegidos, como o das redes sociais ou espaços fechados? O candidato não quer debater, mas quer seu voto? O que nós, cidadãos, queremos?
Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia pela Unesp.